9 de dez. de 2013

POEMA REDIMIDO

A aventura inesgotável e impotente,
Era o cansaço de um sono diuturno,
E o conflito nos meus olhos já doentes,
Trazia os nomes dessas noites que eu não durmo.
O ontem era estátua de matéria tão diversa,
Contando estórias com conotações perversas.

A silhueta de um horror estilizado,
Curvada ao peso de um sonho envilecido,
Eu sei, o tempo não alivia nenhum fardo,
E os sorrisos eram medo e ganidos.
E o esquife à minha espreita, já lá fora,
Era a ironia da vontade que devora.

Mas eu descubro um dia em meio à miragem,
A cruz vazia e um Homem sem pecado,
A dor que sinto, a morte, o medo, são imagens,
Todas desfeitas pelo Deus ressuscitado.
Eu tive o ontem, não serviu. Agora eu vivo,
A render ao graças ao Senhor que livre eu sirvo.

25 de nov. de 2013

FAGIA

Sendo consumido pela areia,
Refém de vidro,
Da noite intacta,
Meus olhos, retalhos, recortes, entalhes,
Eu cego,
Não via o morto habitando em mim.
Em meu calabouço de concreto,
O medo insurrecto
Era fogo inextinto,
Eu todo fracasso, perdido em pecados,
Mas ouvi Teu nome,
Senti tanta fome,
E hoje Tu vives pra sempre em mim.

22 de nov. de 2013

Redentivo

As grades, os garfos, as hastes,
A sustentação provisória,
Os dias perpétuos e as fases,
O acaso e o atraso da história,
Construindo estes versos sem calma,
Definindo o epicentro da alma.
O cansaço, o calor, a promessa,
O suor escorrido e a pressa.
As asas, os traços, as frases,
A perversão permanente,
A lua inconclusa, o desgaste,
E os beijos, desejos doentes,
Tanto esforço, sem cor e sem cortes,
A caricatura da morte.
O calor, a promessa, o cansaço,
Vil e inútil, à procura de espaço.
Mas o sangue vertido em Tua face,
Escrevendo meu nome em Teu livro,
Derrubou o impreciso disfarce,
Transformou o já morto, hoje vivo.
Era a dor no Teu corpo, eram cravos,
Os Teus punhos rasgados e quietos,
Quem comanda sofrendo, parado,
Pra tornar justo um homem abjeto.
É certeza, é esperança, é favor,
Teu nome, o ato perfeito de amor.

21 de nov. de 2013

Lápide


Eu fui uma parede,
Entre ácidos, fumaça e pequenas esferas,
A simetria e as facas,
O fino fio que forja as almas invadindo o sono,
Homem e abandono,
Das paredes saciando a fome,
Tinha um nome, tinha sede, embriagado de estrelas,
De euforia e belas frases,
E um vazio tragava o peito, destruindo o corpo,
Paixão e tempestade,
Paredes escorando a solidão,
Paredes foram minha prisão,
Quis haveres, quis saudades, quis provérbios e canetas,
Quis poesia, fui poeta,
A morte mansa e morna seduzindo os lábios,
Com o beijo ardente do sepulto sábio,
Eu fui uma parede,
Até que aquEle que morreu me concedesse a vida.