25 de nov. de 2013

FAGIA

Sendo consumido pela areia,
Refém de vidro,
Da noite intacta,
Meus olhos, retalhos, recortes, entalhes,
Eu cego,
Não via o morto habitando em mim.
Em meu calabouço de concreto,
O medo insurrecto
Era fogo inextinto,
Eu todo fracasso, perdido em pecados,
Mas ouvi Teu nome,
Senti tanta fome,
E hoje Tu vives pra sempre em mim.

22 de nov. de 2013

Redentivo

As grades, os garfos, as hastes,
A sustentação provisória,
Os dias perpétuos e as fases,
O acaso e o atraso da história,
Construindo estes versos sem calma,
Definindo o epicentro da alma.
O cansaço, o calor, a promessa,
O suor escorrido e a pressa.
As asas, os traços, as frases,
A perversão permanente,
A lua inconclusa, o desgaste,
E os beijos, desejos doentes,
Tanto esforço, sem cor e sem cortes,
A caricatura da morte.
O calor, a promessa, o cansaço,
Vil e inútil, à procura de espaço.
Mas o sangue vertido em Tua face,
Escrevendo meu nome em Teu livro,
Derrubou o impreciso disfarce,
Transformou o já morto, hoje vivo.
Era a dor no Teu corpo, eram cravos,
Os Teus punhos rasgados e quietos,
Quem comanda sofrendo, parado,
Pra tornar justo um homem abjeto.
É certeza, é esperança, é favor,
Teu nome, o ato perfeito de amor.

21 de nov. de 2013

Lápide


Eu fui uma parede,
Entre ácidos, fumaça e pequenas esferas,
A simetria e as facas,
O fino fio que forja as almas invadindo o sono,
Homem e abandono,
Das paredes saciando a fome,
Tinha um nome, tinha sede, embriagado de estrelas,
De euforia e belas frases,
E um vazio tragava o peito, destruindo o corpo,
Paixão e tempestade,
Paredes escorando a solidão,
Paredes foram minha prisão,
Quis haveres, quis saudades, quis provérbios e canetas,
Quis poesia, fui poeta,
A morte mansa e morna seduzindo os lábios,
Com o beijo ardente do sepulto sábio,
Eu fui uma parede,
Até que aquEle que morreu me concedesse a vida.